Dee Snider, no palco, é esta exuberante mistura de Elke Maravilha com Hell's Angels. A cargo dos vocais da Twisted Sister - a banda que, como sugere o nome, nasceu para ser aquela irmã pirada do rock 'n' roll -, ele aparenta ser bem mais sóbrio a cinco metros de distância. Quando não está à frente do microfone para soltar uma das performances mais inspiradas do "hair metal" (a tradução brasileira mais certeira nos leva ao mítico Serguei), Snider parece ligeiramente mais emburrado que os companheiros de banda (os guitarristas Jay Jay French e Eddie Ojeda, o baixista Mark Mendoza e o baterista A.J. Pero), durante entrevista coletiva em um hotel paulistano nesta sexta, 13.
O sol, lá fora, só não brilha mais que as mechas amareladas do frontman, que volta e meia dá um puxão de orelha na intérprete, uma mocinha tatuada e de cabeça igualmente platinada. Durante a conversa com os jornalistas, o grupo promete não economizar nos decibéis naquele que será seu primeiro show na América do Sul, na Via Funchal, neste sábado, 14. Maquiado e com um líder tão cabeludo quanto Elba Ramalho, o quinteto que rejeita o posto de rock-comédia (eles recriminam bandas como o Spinal Tap por ter transformado o estilo em piada) criou, no verão de 1984, "We're Not Gonna Take It", um daqueles hinos metaleiros que todo mundo conhece. No sábado, depois do show de abertura, missão para o Massacration, eles tocarão material de toda a carreira, exceto faixas de Love Is For Suckers, que não teve a participação do baterista Pero.
Eles podem ser crias de outro tempo, mas sacam bem as regras do jogo atual. Um álbum de inéditas para valer não acontece há 22 anos, desde Love Is For Suckers - eles lançaram em 2004 uma versão do clássico Stay Hungry, de 1984 ("nosso Dark Side of the Moon", diz a certa hora Mendoza) e, dois anos depois, um disco natalino. French fala sobre as especulações a respeito de um novo disco e a pirataria na internet com uma frase só: "Primeiro, você precisa querer fazer um CD". Opinião nada fora de moda para alguém cujo visual parece ter estacionado nos anos 80. Ele completa o raciocínio: "Não dá para copiar um show ao vivo", diz French. "Pergunte a Ozzy, Mötley, AC/DC. Você precisa fazer esta conexão pessoal." O Twisted Sister andou meio sabático por uns tempos. Nos anos 90, houve quem virasse motorista de caminhão (Mendoza), enquanto outro se envolvia com instalação de sons em carros (Pero) ou, na hora do aperto, "batia em velhinhas para tirar o dinheiro delas" (Ojeda). Enquanto French empresariou algumas bandas, Snider escreveu e estrelou o filme de horror Strangeland, além de ter tomado gosto pela vida como apresentador de rádio.
"Não acho que sabíamos que o mundo nos queria de volta", conta o guitarrista. Snider complementa: estar mais uma vez no mesmo palco é como "andar de bicicleta", com a última palavra dita num português tosco mesmo. Quem aprende nunca mais esquece. E, definitivamente, o mundo é outro. Nos anos 80, por exemplo, o infame grupo apareceu numa lista de bandas desaconselhadas pelo Senado norte-americano - e ai da estação que inserisse música do Twisted Sister na programação. Pula para a década atual: em 2003, Arnold Schwarzenegger chegou a usar "We're Not Gonna Take It" na campanha que o elegeu governador da Califórnia. Gogó e batom de Snider são ou não, afinal, armas contra a moral e os bons costumes do povo americano? Ele responde enumerando outros artistas que já foram tomados como inimigos públicos: de Ray Charles a Rolling Stones, passando por Eminem e Marilyn Manson. Ou seja, pura bobagem. O único perigo, para o Twisted Sister, é pendurar a diversão na chapelaria do rock.
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