quarta-feira, 6 de maio de 2009

KISS - Apoteose, Rio de Janeiro, 08/04/09

Fotos: Christy Barley e Luiz Fernando Müller
Fonte: http://wiplash.net
O público talvez não fizesse jus às expectativas em termos de quantidade (muitos faltaram em virtude dos altos preços dos ingressos, ou por conta de ser véspera de um “feriadão”), mas de qualquer forma 17.000 pessoas compareceram à Apoteose nessa quarta-feira de bonita lua cheia. Havia previsão de chuva, mas como isso não quer dizer absolutamente nada no Rio (a meteorologia erra uns 90% das previsões), tampouco parecia ser um problema a princípio. De uma forma ou de outra, as arquibancadas não foram abertas e portanto o público se aglomerou na pista, proporcionando um bonito visual.
Após a breve abertura realizada pela banda Libra, anunciada apenas no dia e presenciada somente por quem chegou cedo ao local, aos poucos a pista foi sendo tomada. O palco prenunciava um grande espetáculo, com a enorme estrutura incluindo 4 telões (2 atrás do palco, e 2 juntos aos PA’s), e armações de palco que simulavam paredes de alto-falantes, sobre as quais vários disparadores de fogos de artifício e acionadores de labaredas estavam posicionados. No seu meio, a bateria armada sobre um sistema elevatório, acima da qual ficava o lendário logotipo luminoso da banda, marca registrada desde os anos 70. As luzes se apagaram na hora prevista, com os PA’s tocando “Won’t Get Fooled Again”, do The Who, tema escolhido pela produção, e não pinçado aleatoriamente. Ao final da música, a célebre frase “You wanted the best, you’ve got the best, the hottest band in the world: Kiss!”. A imensa cortina preta que cobria a frente do palco, com o logotipo prateado do grupo, subitamente despencou e foi retirada pelos roadies, ao mesmo tempo em que a banda atacava com os acordes iniciais de “Deuce”. Para quem ainda não sabe, a formação atual do grupo inclui os membros fundadores, líderes, vocalistas e compositores principais, Gene Simmons (baixo) e Paul Stanley (guitarra base), mais Tommy Thayer na guitarra solo e Eric Singer na bateria, ostentando as maquiagens e funções que original e respectivamente pertenciam a Ace Frehley e Peter Criss.
É curioso, e enormemente injusto, como o Kiss é uma banda taxada de mercenária, limitada, infantil, com tudo planejado e programado, etc. Gene e Paul sempre deixaram bem claro que fazem um rock básico e direto, e dentro deste espírito suas músicas são impecáveis, de extremos talento e criatividade. Seu propósito é, claramente, o de satisfazer seus fãs com um grande show, superprofissional, que envolve não somente música boa mas também muitos efeitos visuais e pirotecnias. Também, nunca negaram seu apreço pelo vil metal. Ao Iron Maiden é dado o privilégio de fazer o mesmo eternamente, sem problemas para os críticos de plantão, pode ter um mascote andando pelo palco, cenários egípcios, margem zero para improvisos, etc. O Black Sabbath pode colocar uma réplica do Stonehenge ou de uma igreja no palco, e ter anões circulando ao seu redor. Mas o Kiss não pode fazer nada, que já é injustamente jogado a um segundo escalão, “não é uma banda séria”. Talvez o uso de maquiagens e roupas cintilantes contribua para não serem levados a sério, mas a verdade é que é tudo uma grande hipocrisia: trata-se de um show com boa música, como qualquer outro de grande sucesso dentro do hard rock. Diversão paga, de comum acordo entre as partes envolvidas, tão somente. Voltando ao aspecto meramente musical, o que se pôde assistir na Apoteose foi uma verdadeira celebração da melhor fase do Kiss, ou algo próximo disso. A primeira parte do show consistiu na reprodução quase completa do clássico álbum duplo ao vivo “Kiss Alive!”, carinhosamente conhecido pelos fãs como “Alive I”. Ficaram de fora apenas “Firehouse” e “Rock Bottom”, todo o resto foi tocado, praticamente na mesma ordem do disco original. Para quem duvidava, Gene Simmons e Paul Stanley se mostraram em ótima forma, em especial considerando-se que ambos aproximam-se dos 60 anos de idade. Claro que os agudos já não são mais os de outrora, mas isso é uma velha discussão que não cabe aqui (sempre haverá os “torcedores” que acham que, por exemplo, vocalistas como Dio, Glenn Hughes e David Coverdale nunca perderam a voz, por mais que os registros ao vivo comprovem o contrário). O que realmente importa é que ambos levaram bem tanto os vocais quanto mostraram desenvoltura em seus instrumentos, mesmo não sendo sabidamente virtuoses, longe disso. Tommy Thayer reproduziu com firmeza, de forma quase idêntica, os solos e poses de Ace Frehley, mesmo sem ter o carisma deste. Eric Singer idem, tirou de letra as partes de bateria, e cantou bem em “Nothin’ To Lose” e “Black Diamond”, entretanto sem chegar aos pés dos vocais originais de Peter Criss, um vocalista muito mais capaz e original. O vestuário de todos reproduzia fielmente os da turnê do disco “Dressed To Kill”, de 1975.
A plateia, em grande parte formada por pessoas que nunca tinham tido a oportunidade de ver o Kiss ao vivo, parecia não acreditar que seus ídolos estavam ali presentes. De fato, às vezes é difícil de se acreditar que aquele seja o mesmo Gene Simmons que participa dos programas de TV com uma aparência circunspecta e auto-indulgente. O público cantou junto da banda as letras, desde a abertura com “Deuce” e “Strutter”, que logo de cara conquistaram a galera com suas levadas empolgantes, e bons solos de Thayer. Até mesmo as coreografias de Paul, Gene e Tommy (fazendo logicamente as vezes de Ace) retratavam fielmente as dos anos 70. Algo um pouco anacrônico para os dias de hoje, mas de forma alguma deslocado, dadas as características do concerto, de celebração dos 35 anos do grupo. É difícil de imaginar que alguém tenha deixado a Apoteose não satisfeito com o espetáculo proporcionado pelo Kiss, tanto musical quanto visualmente. Talvez retornem daqui a algum tempo para promover o novo disco de estúdio que está sendo gravado no momento, mas o mais provável é que essa tenha sido a última visita deles ao Brasil. Quem viver, verá... Setlist:
- Deuce-
- Strutter-
- Got To Choose-
- Hotter Than Hell-
- Nothin' To Lose-
- C'mon And Love Me-
- Parasite-
- She (incl. Tommy Thayer guitar solo)-
- Watchin' You- 100,000 Years (incl. Eric Singer drums solo)-
- Cold Gin-
- Let Me Go, Rock'n'Roll-
- Black Diamond-
- Rock And Roll All Nite
Bis:
- Shout It Out Loud-
- Lick It Up-
- I Love It Loud-
- I Was Made For Lovin' You-
- Detroit Rock City

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