Primeira edição do megafestival completa 25 anos nesta segunda (11). Empresário quer trazer evento de volta ao Rio no final de 2011.
Intuição, ilusão e desafio são algumas das palavras utilizadas pelo publicitário e empresário Roberto Medina para, 25 anos depois, descrever o que ficou conhecido como o maior festival de música do Brasil e um dos maiores do mundo: o Rock in Rio. “Pensando bem, foi uma maluquice mesmo”, reconhece o idealizador do evento, que entre 11 e 20 de janeiro de 1985 reuniu 1,38 milhão de pessoas na Cidade do Rock, construída em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio, especialmente para abrigar o festival. “Era uma época de transição entre o governo militar e a democracia, um momento em que a juventude queria ir para a rua. Eu, como empresário de comunicação, achava que seria bom tentar ajudar nesse sentido, mostrar a cara do Brasil. O festival nasceu a partir disso”, relembra Medina. De lá para cá, o Rock in Rio foi realizado mais duas vezes no Brasil (em 1991 e 2001) e ganhou cinco edições internacionais - três em Lisboa (2004, 2006 e 2008) e duas em Madri (2006 e 2008). As capitais portuguesa e espanhola, aliás, vão receber o festival mais uma vez em maio e junho deste ano.
O video abaixo vale a pena pelas imagens, esqueça os diálogos, é simplesmete o show de besteirol de ambas as partes.
Morando há dois anos em Madri, Roberto Medina está de passagem pelo Brasil e recebeu a reportagem do G1 no escritório da Artplan, no Rio, onde relembrou histórias, dificuldades e curiosidades sobre o Rock in Rio.
O Boteko selecionou alguns trechos da entrevista concedida ao site G1. Medina fala entre outras coisas, de não entender o significado do chifre, simbologia usada pela turma do Heavy Metal, já naquela época.
G1 – Como surgiu a ideia de fazer um festival desse porte no Brasil?
Roberto Medina — Foi uma maluquice. Não existia nada parecido, nem aqui nem lá fora, que pudesse servir de referência para o que gostaria de fazer. Foi pura intuição. Claro que não planejei nada sozinho. Tive uma equipe de outros malucos que me acompanharam. E, no momento em que topamos o desafio, fui aprendendo. Foram oito meses de trabalho lidando com dificuldades. Era uma época de transição entre o governo militar e a democracia, um momento em que a juventude queria ir para rua. Eu, como empresário de comunicação, achava que seria bom tentar ajudar nesse sentido, mostrar a cara do Brasil. O festival nasceu a partir disso. Eu estava iludido, apaixonado pela ideia. O Rock in Rio foi todo concebido em uma noite. Lembro de estar jantando em casa, inquieto. E, na manhã seguinte, a coisa toda já existia. E já se chamava Rock in Rio. Na manhã seguinte em que tive a idéia, cheguei à Artplan excitadíssimo com o projeto. Só que as pessoas não gostaram do nome. Diziam: “Vai colocar uma palavra americana no meio? Melhor que seja Rock no Rio”. E eu respondi: “Não estou perguntando a opinião de vocês. Estou apenas comunicando que vai se chamar assim” (risos). Só não fui demitido porque era o presidente da empresa (risos). Nem eu mesmo sei por que cismei com esse nome. Deviam ter pensando na época: “Pô, que cara excêntrico. Vai ficar um mês pensando nisso e depois vai esquecer”. Mas não esqueci. E outras pessoas foram se unindo a isso. Não sabia exatamente onde seria realizado, mas o lugar que queria estava claro na minha cabeça. Quando comecei a ver os terrenos, escolhi o local mais desaconselhável para erguer a Cidade do Rock. Era um terreno muito fundo, teríamos que aplaná-lo. E foi o que aconteceu: 55 mil caminhões de terra foram utilizados para colocar o local em condições. Nunca imaginei que o festival fosse receber 1,38 milhão de pessoas, que iria se transformar em um movimento nacional. Só tinha certeza que ia ser muito importante para a cidade do Rio de Janeiro.
G1 — Como foram os dias que antecederam a abertura do festival em 1985?
Medina — Foram de tensão e adrenalina. Vivi coisas muito interessantes. Mais ou menos um mês antes do início do festival, um rapazinho que vendia balas num sinal de trânsito da Lagoa Rodrigo de Freitas desejava “Feliz Rock in Rio!” para as pessoas que passavam por ali. Era época de Natal. Fiquei muito impressionado com aquilo. No primeiro dia de shows, fui acompanhado da minha ex-mulher à área VIP do festival, que era um lugar mais alto, destacado. Quando me dei conta, vi o pessoal do heavy metal fazendo aquele chifrinho característico com as mãos na minha direção. E como conheço muito pouco de rock pesado, perguntei para a minha assessora: “Eles estão me chamando de corno?” Aí ela me explicou aquela simbologia. E fiz o sinal de volta para eles (risos). Também no primeiro dia, as pessoas contratadas para vender ingressos abandonaram as bilheterias e correram para ver os shows. Quem acabou tendo que desempenhar essa função foram alguns dos meus amigos, meu motorista... Com os funcionários de uma rede de fast food, contratada para o evento, aconteceu a mesma coisa. Foi o caos completo. Mas conseguimos administrar aquilo, e foi muito emocionante.
G1 — De que forma o tipo de organização do Rock in Rio influenciou outros festivais, no Brasil e no mundo?
Medina — Hoje, a equipe de som que faz o festival na Espanha e em Portugal é toda brasileira. Enquanto que foi uma dificuldade lidar com os técnicos americanos no primeiro Rock in Rio, hoje temos uma indústria nacional de som e iluminação formada. Aliás, já faz algum tempo que o Brasil é maioridade absoluta em estrutura técnica. O Rock in Rio é, acima de tudo, um grande projeto de comunicação. A gente se preocupa com os detalhes. Eu, por exemplo, proíbo as empresas terceirizadas de praticar um preço acima da realidade do mercado. Me preocupo com o trânsito. Isso não é normal nos festivais internacionais, que simplesmente montam um palco, colocam uma banda para tocar e vendem ingressos. Lá fora, o respeito ao consumidor é zero. O que eles vendem direito é a banda. É isso o que existe no mundo. Acho que isso acontece porque a cabeça das pessoas do ramo é de contratante de artistas, vendedores de ingressos. Não são publicitários. Eu faço isso também, mas sou de comunicação. Sei dos gastos, retornos, benefícios e alternativas. É uma visão que os caras que estão nesse meio não têm.
G1 — Quando teremos um novo Rock in Rio no Brasil?
Medina — Tinha pensado em voltar com o festival em 2014, ano em que a Copa do Mundo será realizada no Brasil, mas agora acho que pode acontecer no final de 2011. Tomei essa decisão há um mês. Agora que visitei a cidade, fiquei com mais vontade ainda. Porque eu amo o Rio de Janeiro. Tenho um sentimento, uma intuição de que vamos voltar a realizar o festival aqui. Dentro disso, uma das coisas que conversei com as autoridades daqui, nesta minha vinda ao Brasil, é que elas pensem na possibilidade de criar uma infraestrutura, não exclusivamente para atender o Rock in Rio, mas onde seja permitido reunir 100, 120 mil pessoas com segurança e conforto. Passei essa bola para as autoridades públicas competentes. Afirmaram que isso será estudado. Se encontrarem uma fórmula viável, o Rock in Rio vai voltar. Dentro disso, uma das coisas que conversei com as autoridades daqui, nesta minha vinda ao Brasil, é que elas pensem na possibilidade de criar uma infraestrutura, não exclusivamente para atender o Rock in Rio, mas onde seja permitido reunir 100, 120 mil pessoas com segurança e conforto. Passei essa bola para as autoridades públicas competentes. Afirmaram que isso será estudado. Se encontrarem uma fórmula viável, o Rock in Rio vai voltar.
G1 — O que estaria faltando para que a realização desse novo festival se concretizasse no próximo ano?
Medina — Exatamente isso: um espaço público. É preciso que o governo encontre um espaço, não só para o Rock in Rio, mas para outros eventos desse porte. Basicamente é isso. Porque essa não é tarefa para os empresários. Uma cidade com o equipamento urbano que tem o Rio de Janeiro deve ter obrigatoriamente um espaço para isso. Acho que não haveria grandes dificuldades de o município se mobilizar nessa direção. Já conversei com o prefeito Eduardo Paes e ele está pensando no assunto. Porque acho que ele também tem consciência disso. E no dia em que tivermos um local aberto, bonito e cheio de verde, vamos fazer frente a qualquer lugar do mundo. É difícil, mas acho que com a chegada das Olimpíadas, em 2016, isso certamente vai acontecer. Não sei exatamente quando e onde. Hoje é um problema para o Brasil abrigar grandes eventos. Tem que existir uma solução adequada para isso.
G1 — Fazendo uma retrospectiva das edições brasileiras, quais momentos você considera mais marcantes?
Medina — Quando abrimos os portões no primeiro dia do festival, em 1985. Lembro que as primeiras pessoas que entravam na Cidade do Rock, se atiravam no chão e beijavam a grama. Era uma cena inacreditável. Foi o primeiro grande momento. Depois, o show do James Taylor, na mesma edição. Tinha uma lua linda no céu, ele estava emocionadíssimo. Aquilo me tocou muito. E o primeiro dia do Rock in Rio de 2001, em que tivemos três minutos de silêncio simbolizando o desejo de paz. Diversas emissoras de rádio e TV em todo o país suspenderam a programação durante o período de silêncio. Tínhamos uma orquestra sinfônica, Gilberto Gil e Milton Nascimento juntos no palco, além de aviões cruzando os céu. Inesquecível.
Para ler a entrevista na integra - Clique: G1 entrevista Medina.
Fonte: G1\Fotos: Pesquisa Web e G1.
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