São quase dois minutos de total surpresa - ou desespero. Let It Die, a primeira faixa do novo disco de Ozzy Osbourne, Scream, soa computadorizada, metálica, artificial.
Assusta, sim, mas por pouco tempo. Alívio. Depois de um início de batidas cadenciadas e a voz irreconhecível, é possível voltar a ouvir o bom e velho Madman.
Aos 61 anos, Ozzy lança seu décimo álbum de inéditas com muitas surpresas - a maior parte delas boa. Uma delas é o sotaque grego. O guitarrista Zakk Wylde, ao lado de Ozzy desde 1988 - quando foi lançado o disco No Rest for the Wicked -, foi substituído pelo grego Kostas Karamitroudis, mais conhecido como Gus G.
A injeção de sangue novo deu a Scream um corpo que Wylde, tão preocupado com seus projetos paralelos, entre eles, sua banda Black Label Society, já não conseguia. Gus G. chegou quando o CD já estava sendo produzido, mas o eletrizante solo de guitarra em Soul Sucker, terceira faixa do disco, mostra do que ele é capaz.
Na bateria, foi escalado Tommy Clufetos, que já tocou com gente como Ted Nugent, Rob Zombie e Alice Cooper. Outro parceiro do álbum Black Rain, de 2007, o produtor Kevin Churko, manteve a parceria com Ozzy neste disco e assina, ao lado dele, as letras e produção do novo álbum.
Scream, que teve seu lançamento oficial em 11 de junho e acaba de chegar ao Brasil, é seu melhor disco em duas décadas, e, principalmente, superior ao seu antecessor, Black Rain, lançado em 2007.
O que se escuta em Scream é um metaleiro em forma, apesar da compreensível queda na potência vocal.
Esqueça a múmia - viva e rouca que estrelou o seriado The Osbournes, reality show da MTV que, de 2002 a 2005, televisionou o cotidiano da família do músico e mostrou ao mundo um velho debilitado depois de abusar das drogas.
Apesar da volta à boa forma, Ozzy parece resignado com a velhice. De fato, o tempo não para. Nem para um dos deuses do heavy metal.
E mais: o tempo transforma. Agora, ele canta sobre despedidas, tempo perdido e a inevitável proximidade da morte. As canções Let It Die, Let Me Hear You Scream e Soul Sucker formam um pesado trio de ferro de abertura.
Mas logo Ozzy mostra seu ótimo tino para baladas com veia roqueira. O nome não poderia ser mais significativo: Life Won?t Wait, ou, em bom português, "a vida não vai esperar". Na sequência, na sombria Diggin?Me Down, ele destila suas dúvidas sobre religião. "Vamos lá, Jesus, não nos deixe esperando apenas por você/ Como eu irei reconhecer você, Senhor Jesus Cristo? /O Senhor já não esteve aqui uma vez ou duas? / O filho de um homem ou absoluta fachada?Como eu saberei que você é o Filho de Deus?".
Na 11ª e última faixa, porém, o questionamento muda. Volta o conformismo de um homem que vê a derrota na luta contra o tempo. Em um minuto, ele agradece e se despede, da melhor maneira que sabe: cantando: "Por todos esses anos em que vocês estiveram comigo / Deus os abençoe / Eu amo a todos".
Uma despedida desnecessária para quem, aos 61 anos, mostra neste novo CD que ainda tem rock e energia para passar muitos anos cantando e gritando nos palcos do mundo.
Fontes: R7\Jornal da Trade\Fotos: Júlio Kummer
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