domingo, 25 de abril de 2010

VINIL FOREVER: Veja como o clássico disco de vinil resiste aos avanços tecnológicos.


 
Por Claúdio Dirani
Estamos em 17 de agosto de 1982. Os primeiros exemplares do supermoderno CD começam a ser prensados e oferecem ao consumidor uma proposta de durabilidade imbatível, qualidade de som perfeita e facilidade de armazenamento incomparável. Seria o fim do LP? Mais de 25 anos depois, com os compact discs já reinando, é a vez da ascensão do mercado de música digital. Seria o fim do CD? A pergunta se repete e a resposta talvez seja a mesma dada pelo velho amigo “bolachão”, lá no início dos anos 80. O long player e sua tradicional velocidade a 33 rotações por minuto nunca perderam a majestade. E atualmente ele começa a ganhar cada vez mais espaço nas prateleiras das melhores lojas, ao lado do amigo compacto. Essa romântica forma de ouvir música comprova a tese de que é possível uma convivência amigável com o CD, sem dar a mínima para a concorrência da MP3.

Lado A

De olho nas tendências do mercado, a Livraria Cultura começou a vender discos de vinil em 2006. No início, de forma tímida, com cerca de 60 títulos. Neste ano, já conta com mais de 600 em seu acervo e trabalha com mais de 90 selos diferentes, entre americanos e europeus. “O crescimento das vendas de LP tem surpreendido. Só até maio de 2008 vendemos três vezes mais que no ano passado inteiro”, diz Rodrigo de Castro, gestor de acervo de música da Cultura.
Em uma rápida pesquisa, percebe-se que o perfil do consumidor de long player é amplo, variando de 22 a 45 anos. Os mais velhos ainda possuem vitrola em casa, são “audiófilos” que curtem o som indefectível do vinil, vivem uma certa nostalgia e apreciam estilos como classic rock e jazz. Os mais novos descobriram e fazem um certo culto a ele, possuem pick-ups novinhas, enquadram o encarte dos discos para decorar as paredes e gostam de gêneros fora do eixo mais pop. “Os amantes do vinil redescobriram o prazer de ouvir o lado A e o lado B dos discos. E dão mais atenção aos nomes das músicas em vez dos ‘frios’ números das faixas, típicos das MP3”, ressalta Rodrigo.

Os títulos mais vendidos do ano passado em LP na Livraria Cultura foram Abbey Road (The Beatles), The Dark Side of the Moon (Pink Floyd), Modern Times (Bob Dylan), The Mix-Up (The Beastie Boys) e A Love Supreme (John Coltrane). Em tempo: os campeões de venda no primeiro semestre deste ano incluem In Rainbows (Radiohead) e Back to Black (Amy Winehouse). Uma amostra do apetite renovado do público jovem pela bolacha feita de vinil. Para saber mais sobre os títulos disponíveis na Cultura, acesse o site www.livrariacultura.com.br e entre na página dedicada exclusivamente ao acervo de LPs.
Falando nessa jovem guarda apaixonada pelos discos, a estudante Priscila Ferreira, 17 anos, é um ótimo exemplo. Fã de bandas como Pixies, The Jesus and Mary Chain, Radiohead e Joy Division, ela possui em casa um acervo de dar inveja a qualquer um. E quem pensa que o vinil é uma novidade para Priscila se engana. “Descobri o disco em uma viagem à França quando tinha 13 anos e gostei de saber que as bandas atuais ainda lançavam LPs. Depois disso, comprei meu primeiro toca-discos aqui no Brasil”, conta. Guilherme Inhesta, vendedor da Cultura, tenta explicar o fenômeno: “A procura pelos discos cresceu demais entre os jovens. De repente, a garotada que não tinha nenhum contato com essa ‘mídia alienígena’ ficou louca pelo vinil.”

Essa “vinilmania” recentemente contou com o reforço da revista Visionaire #53: com o tema SOUND, o item de luxo conta com cinco LPs Picture em embalagem especial (foto ao lado). Cada um dos discos tem arte assinada por nomes contemporâneos, como Nick Knight e Cindy Sherman. O mais curioso desse mimo é o toca-discos que acompanha o pacote: um carrinho de brinquedo com agulha e caixas de som, que reproduz a música enquanto gira pelas faixas do LP.

Vinil hero

Adivinhe quem é o nosso personagem: ele ama vinil, tem nome de vinil e defende o vinil como aquele super-herói das histórias em quadrinhos. Seu nome de batismo é Antonio Carlos Xenofonte, mas ele atende mais rápido se chamado de Kid Vinil. Músico, radialista, apresentador e colecionador, Kid Vinil é uma espécie de marchand na arte dos LPs. Em seu apartamento, o fã nº 1 do disco orgulhosamente guarda uma coleção superior a 10 mil unidades. A respeito do ressurgimento dos LPs, o herói apela para a raiz do pop rock inglês – pródigo em criar hábitos cult. “Bandas atuais como Coldplay e a indie Glas Vegas preferem lançar suas músicas em compactos de sete polegadas, que se transformam rapidamente em raridades”, revela. “O retorno dos compactos em vinil lançaram outra tendência: a das vitrolas portáteis. Na Inglaterra, esse equipamento tem sido procurado cada vez mais pela garotada para ouvir seus disquinhos em qualquer lugar”, completa o artista. Sobre os atrativos do LP, Kid Vinil declama suas preferências como se fosse poesia. “A arte dos LPs é imbatível. As capas duplas, as ilustrações... é algo que se perdeu nos últimos anos”, suspira.

Lado B

Nove (e meio) entre dez amantes da música que atravessaram a fase de transição entre o LP e o CD não gostam de baixar MP3. E não se trata apenas de nostalgia. No meio dos anos 80, um detalhe quase imperceptível sumiu das capinhas dos álbuns: a mensagem “Disco é cultura”. Com a escalada digital, ouvir música tinha ficado algo mais frio e calculista, e se tornou um artigo corriqueiro de consumo. O publicitário Eduardo Lattes, 35 anos, faz coro: “Com o vinil, você tinha sempre um pôster ou item que fazia do LP um objeto cultural”, explica. Sobre a qualidade sonora do vinil, as opiniões são ímpares. É fato que a masterização do LP é mais “quente”, com os sons graves em destaque, entre outros. Para alguns especialistas, essa peculiaridade sumiu um pouco com as prensagens atuais. Palavra de um profissional que tem em seu currículo a produção de álbuns para nomes como David Bowie, Elton John, Duran Duran e The Beatles. Trata-se do inglês Ken Scott, um dos mais conceituados engenheiros de som do mundo, que falou sobre o vinil com a Revista da Cultura diretamente de Los Angeles: “Sem dúvida, prefiro o som do vinil. O LP tem um som muito mais ‘quente’. O problema é que, no final dos anos 80, ele tinha uma qualidade bem inferior e o CD precisou tomar o seu lugar”, lembra Scott. “Ainda assim, o som é muito melhor que o digital”, complementa o engenheiro, que encerra o Lado B desta matéria sem riscar o disco. ©

Publicada originalmente em 18 de agosto de 2008 - Revista da Cultura.
Fotos: Revista da Cultura e Okkut - Walter Pires.

2 comentários:

Anônimo disse...

Sou Rocker desde 1977, e considero
o vinil cult, em todos os sentidos.
Nunca aceitei o fim do vinil em mea-
dos dos anos 90 e sua substituição
total pelo ´disco digital de áudio´
como foi chamado o cd no início dos
anos 80. O visual, as capas e os en-
cartes incluídos nos vinis originais
além de sua sonoridade compacta e pe
sada, nunca e jamais podem ser com-
paradas aos pobres cds.

Anônimo disse...

Sou Rocker desde 1977, e considero
o vinil cult, em todos os sentidos.
Nunca aceitei o fim do vinil em mea-
dos dos anos 90 e sua substituição
total pelo ´disco digital de áudio´
como foi chamado o cd no início dos
anos 80. O visual, as capas e os en-
cartes incluídos nos vinis originais
além de sua sonoridade compacta e pe
sada, nunca e jamais podem ser com-
paradas aos pobres cds.