segunda-feira, 8 de outubro de 2012

BOB DYLAN: A tempestade do bardo.

 
Lizandra Pronin
Redação TDM.
 
Assim como aquelas bebidas que envelhecidas chegam ao ponto certo, Bob Dylan está numa fase de ouro. É verdade que ao longo de sua carreira, o músico teve altos e baixos, acertou e errou muitas vezes. Incorporou personas diferentes. Já fez som plugado e desplugado. Afugentou fãs por motivos que serviram para angariar outros tantos. O que mais o bardo poderia fazer?
"Tempest", o 35º álbum de uma extensa discografia, está aí para provar que Dylan tem sempre algo para mostrar. Não que Dylan, do alto de seus 71 anos, tenha resolvido revolucionar a música. Não, ele faz o que sempre fez - folk, blues, rock, country e baladas - só que consegue parecer renovado dentro de sua seara. A curva que acompanha a linha do tempo do artista, aponta para cima, mais uma vez.
Seus fãs estão sempre atentos e quando o músico revelou o nome do álbum, logo surgiram boatos sobre ser este seu último lançamento. O motivo: "Tempest" é o nome da última peça de William Shakespeare. Dylan negou qualquer relação. A faixa que dá título ao álbum, com quase 14 minutos de duração, traz referências ao naufrágio do Titanic.
O disco abre com "Duquesne Whistle", escrita em parceria com Robert Hunter (Grateful Dead). A música, que ganhou o videoclipe que você vê abaixo, sugere mais de uma interpretação, mas é claro que Dylan está informando que ainda tem muito a dizer.
Em "Narrow Way", aliás, ele avisa mais uma vez para quem tiver qualquer dúvida de sua força: está pronto para a luta e seu oponente não sairá dela sem cicatrizes. Nada mal para um senhor de sua idade. Vale destacar no repertório, o modo afiado - como sempre - com que Dylan aborda temas sombrios, como acontece em "Long and Wasted Years" e "Early Roman Kings".
"Scarlet Town" também merece menção. A balada melancólica traz referências a um poeta abolicionista do século XIX chamado John Greenleaf Whittier e descreve cenas que o ouvinte imagina com tanta facilidade que é como se seu personagens tomassem vida.
"Roll On John" fecha o álbum e é uma homenagem ao falecido amigo John Lennon. "Brilhe, siga adiante, você brilha tanto, siga John", diz sua bela letra que, no final, ganha versos de William Blake (Tyger, Tyger burning bright / In the forest of the night). Dylan sempre foi muito bom com palavras e em "Tempest" continua assim. Isso sem contar a voz rouca e já um tanto tremulante de Dylan que continua com aquela ironia sutil que só ele consegue ter.
 
Track List:
 
01. Duquesne Whistle
02. Soon After Midnight
03. Narrow Way
04. Long and Wasted Years
05. Pay In Blood
06. Scarlet Town
07. Early Roman Kings
08. Tin Angel
09. Tempest
10. Roll On John

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