Por Marcelo Moreira.
No auge da fama do Whitesnake, entre 1987 e 1990, David Coverdale concedeu uma entrevista a uma revista inglesa onde desdenhava de algumas músicas do Led Zeppelin e sobre supostas acusações que estava recebendo por ter plagiado ou ao menos ter copiado trechos de outras músicas em suas composições.
“Isso é bastante questionável. Se formos levar a fundo mesmo, então mudaremos
a história e o Led Zeppelin terá de pagar um dinheirão para Willie Dixon
(bluesman norte-americano). Ele é o ‘verdadeiro’ autor do primeiro LP do Led”,
disse Coverdale.
A falta de jeito e de educação espantou quem o conhecia. Afinal, desde os
tempos de Deep Purple que ele havia deixado o estilo polêmico para lá. Um
jornalista brasileiro tentou lembrá-lo anos atrás sobre a declaração durante uma
entrevista por telefone, mas o cantor inglês desconversou e afirmou não se
lembrar daquelas palavras.
O curioso é que, para se defender à época, acabou atacando Jimmy Page, o
principal compositor do Led Zeppelin. Pouco tempo depois, Coverdale pareceu não
se importar em trabalhar com um “plagiador”. Mais do que isso, afirmou na época
do lançamento do álbum “Coverdale-Page” que aquele era um dos melhores trabalhos
que tinha produzido e que o ex-guitarrista do Led Zeppelin era um gênio.
O subestimado álbum que reuniu os dois grandes astros ingleses foi lançado em
março de 1993, com resultados apenas razoáveis na Inglaterra e nos Estados
Unidos em termos de vendas. Foi mais uma obra de grande porte e de excelente
qualidade ofuscada pela moda passageira chamada grunge, que legou apenas Pearl
Jam e Soundgarden como atrações de alguma relevância artística.
O projeto que reuniu os dois era secreto em meados de 1991. Foi de ideia do
estafe de Page convidar Coverdale para um projeto de hard rock, só que mais
pesado, já que Robert Plant recusara nova proposta de reativar o Led Zeppelin.
Coverdale ficou entusiasmado e aceitou conversar e tomar umas cervejas com Page
e seu empresário para ver se rolava algo.
Dois depois, estavam na casa do guitarrista para algumas jams no estúdio
caseiro do local; um mês depois, estavam assinados os contratos para que o
Coverdale-Page, nome escolhido para o projeto.
E tudo foi feito em segredo, que conseguiu ser mantido até o começo de 1993,
quando ninguém conseguia entender o porquê de o vocalista ter desfeito o
Whitesnake após a turnê de estrondoso sucesso de 1990.
“Coverdale - Page”, álbum homônimo lançado no meio de 1993, é uma obra-prima do
hard rock, mesclando a veia mais popular de Coverdale e o peso das guitarras
zeppelinianas de Page.
O vocalista foi criticado à época por exagerar nos agudos em algumas músicas,
o que foi encarado como uma tentativa de emular as performances de Robert Plant
nos tempos áureos do Led, na década de 70.
É fato que Coverdale forçou um pouco, mas nada que tire o brilho de músicas
fantásticas como “Absolution Blues”, “Shake My Tree”, “Take Me For a Little
While”, “Whisper a Prayer for the Dying”, “Pride and Joy” e “Over Now”.
O entrosamento entre os dois músicos foi total, desde as jams na casa de Page
até as jams realizadas no Japão como aquecimento para a turnê. O problema é que
tudo estava indo bem demais, todo mundo estava feliz demais, e isso é um perigo
em se tratando de Jimmy Page.
Há quem diga que o guitarrista é notório por ser perseguido pelo azar ou por
“maus fluidos”. Seja como for, o que deu muito certo nos bastidores e nos
ensaios ficou esquisito nos palcos.
As primeiras performances no Japão foram ótimas, mas depois a coisa começou a
complicar. Os empresários de Page começaram a se incomodar com as performances
bombásticas de Coverdale, além das vendas decepcionantes, apesar de boas, do CD.
Eles achavam que choveriam convites para turnês pela Europa e Estados Unidos,
mas isso não ocorreu.
Fonte: Combate Rock.
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