O álbum “Psycho Circus”, de 1998, mostrou um Kiss no piloto automático, quase que na obrigação de ter de gravar um álbum com inéditas com a formação original – implodida pela segunda vez algum tempo depois. Três boas músicas e nada mais. Demorou 11 anos para novo álbum, “Sonic Boom”, mais empolgado, mas com pouca inspiração, já que não produziu nenhum hit – culpa talvez dos excessos da produção megalomaníaca.
“Monster” é apenas o terceiro álbum do Kiss em 14 anos. Lançado no começo deste mês, representa um sopro de esperança para uma banda prestes a completar 40 anos de existência. Os exageros característicos dos farofentos anos 80, que ainda estavam presentes em “Sonic Boom”, só que em escala bem menor, foram substituídos por uma bem-vinda simplicidade.
Finalmente o quarteto admitiu: para surpreender os fãs, não era preciso inventar, nem mesmo se reinventar. Bastava olhar para a vizinhança, detectar a mesmice e a falta de ideias, e depois olhar para um passado remoto. Adicione timbres mais modernos de guitarra e está feito um interessante álbum de hard rock.
A opção de deixar o climão setentista dominar “Monster” foi uma decisão acertada. Nem o mais fervoroso fã imaginaria que Gene Simmons (baixo e vocais) e Paul Stanley (guitarra e vocais) se interessariam novamente por uma sonoridade que remete, ainda que parcialmente, aos clássicos “Destroyer”, “Rock’n’Roll Over” e “Love Gun”, gravados entre 1976 e 1977.
Sumiram todos os indícios de obrigatoriedade de gravar algo novo. Pode até ser uma coisa fingida, mas as músicas novas transbordam um astral positivo e mais alegre, são cativantes e, despidas de arranjos pomposos e desnecessários, levam ao Kiss de volta ao terreno do rock’n’roll básico e sem muitas firulas.
Não há nada de memorável em “Monster”. A inspiração foi a sonoridade dos clássicos setentistas da banda – repito, uma decisão acertada –, com resultado positivo e interessante, mas apenas isso.
Assim como em “Sonic Boom”, não há um grande hit, nenhuma música com potencial para se tornar um clássico da banda. No entanto, como um todo, o novo álbum é mais coeso e melhor do que o anterior. A coleção de músicas tem mais qualidade – tocar e gravar com vontade, com bom astral, faz toda a diferença.
“Hell or Hallellujah” foi a primeira faixa ser divulgada na internet. Ainda traz alguns resquícios de uma produção mais esmerada e com acessórios, mas já indicava que o caminho da simplicidade seria trilhado. Mantém as características de um rock de arena próprio para abrir o álbum.
A sequência é uma trinca de levantar estádios, com guitarras na cara e com timbres setentistas deliciosos: “Wall of Sound”, “Freak” e “Back to Stone Age”. “Shout Mercy” é mais pesada, com um ritmo frenético à la AC/DC, com riffs bem construídos de guitarra e baixo.
“Long Way Down” é uma rara pisada na bola. Não porque a música seja ruim – não é. O problema é que claramente uma chupação do clássico dos Yardbirds “Shapes of Things”. A semelhança é tão clara que ouvi-la torna-se um constrangimento.
As demais músicas mostram um nível bastante parecido, de boa qualidade e com doses extras de animação, com destaque para outro rock de arena, um pouco mais pesado e rápido, mas contagiante, “All for the Love of Rock & Roll”, cantada pelo baterista Eric Singer.
E a maior de todas as surpresas: cadê a indefectível balada? quase todos os álbuns do Kiss contêm pelo menos uma… e “Monster” quebra a escrita. Não resta dúvidas de que é um álbum diferente. Traz o Kiss revigorado e com vontade, produzindo um trabalho muito bom.
Assim como o Van Halen no começo do ano, com “A Difficult Kind of Truth”, o quarteto mascarado voltou para marcar terreno e mostrar que, sem ser brilhante ou genial, ainda é capaz de varrer 90% do rock insosso e insípido produzido neste século XXI.
Lista de músicas:
- Hell or Hallelujah
- Wall of Sound
- Freak
- Back to the Stone Age
- Shout Mercy
- Long Way Down
- Eat Your Heart Out
- The Devil is Me
- Outta This World
- All for the Love of Rock & Roll
- Take Me Down Below
- Last Chance.
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