Por Adriana Dal Ré
Em termos icônicos, o bigode de Freddie Mercury está para o cenário musical
como o de Charles Chaplin está para o cinema e o de Salvador Dalí, para as artes
visuais. Nos três casos, os donos dos valorosos ‘moustaches’ criaram uma
estética que lhes conferiram, a seu modo, a physique du role do gênio
transgressor. Dalí, na condição de mestre do surrealismo, se inspirou no pintor
espanhol Diego Velázquez, nascido no fim do século 16, para arquear seus bigodes
para o alto. Chaplin, como Carlitos, lapidou o adorável vagabundo que podia não
ter onde cair morto, mas prezava por seu visual asseado.
E Farrokh Bulsara, na pele de Freddie Mercury, cunhou a figura de clone gay
do machão dos anos 80, com cabelos curtos e bigode preto, deixando para trás o
rosto liso e seu estilo meio glam da década de 70. Isso não quer dizer que seu
emblemático bigode surgiu por causa de uma mera transição de década.
Coincidentemente, aquele período foi crucial não só para ele como para o Queen,
histórica banda inglesa que ele liderou. Na vida privada, Freddie conquistara
reconhecimento, fama – e segurança para assumir sua homossexualidade. Já como
vocalista e compositor do Queen, viu o grupo chegar ao topo das paradas da
Europa e dos EUA.
Morto há 20 anos, em novembro de 1991, vítima de aids, o cantor lutou por sua
música até o fim, seja como integrante da banda, seja como artista solo. E
também se envaideceu, e se excedeu, e brigou, e reverenciou. Ele,
inevitavelmente, é a grande estrela do novo livro Queen – História Ilustrada da
Maior Banda de Rock de Todos os Tempos, do jornalista inglês Phil Sutcliffe. É
que, apesar de serem peças importantes, o guitarrista Brian May, o baterista
Roger Taylor e o baixista caladão John Deacon (que deixou a banda em 1997)
acabam sendo – e se portando como – coadjuvantes dessa história.
A obra, caprichada, recupera entrevistas que o próprio Sutcliffe fez com a
banda, além de outros textos publicados e um vasto material iconográfico,
incluindo mais de 500 imagens de shows, fotos dos músicos, cartazes de shows,
capas de discos, canhotos de ingressos e programas de concertos. Ainda em
comemoração aos 40 anos do grupo, que foi formado em 1971, a gravadora Universal
relançou, ao longo deste ano, toda a discografia do Queen remasterizada. São 15
CDs no total. A última leva que chegou às lojas agrupa os últimos quatro álbuns,
o ótimo The Works (com Radio Ga Ga e I Want to Break Free), A Kind of Magic (do
qual saiu mais um punhado de sucessos, como Who Wants To Live Forever e Friends
Will Be Friends), The Miracle e Innuendo, além do póstumo Made in Heaven.
Jogando os holofotes sobre Freddie, Phil Sutcliffe acredita que o Queen,
mesmo composto por músicos aplicados e talentosos, nunca teria “chegado lá sem o
arrebatador de estádios que foi Freddie Mercury”. Em seu livro, o jornalista
volta às raízes de seu protagonista, que mesmo quando ainda não era ninguém, já
descia pela King’s Road, em Londres, metido a astro, em um terno de veludo
vermelho com guarnições de pele de raposa.
Freddie (apelido que ganhou na época da escola) nasceu Farrokh Bulsara, em
1946, na ilha de Zanzibar, no leste da África. Filho de pais indianos, estudou
num internato. Em 63, quando Zanzibar tornou-se independente, sua família foi
para a Inglaterra. Lá, mais tarde, ele conheceria Brian, Roger e John e, nos
anos 70, buscaria seu lugar ao sol tendo sempre como foco aquilo para o qual
tinha certeza de que estava predestinado: o sucesso. E conseguiu. Deixou sua
marca na história da música. Sua voz ficou eternizada. E seu bigode? Bom, esse
entrou para o imaginário coletivo – junto com os de Chaplin e Dalí.
Rock In Rio - Um capitulo à parte.
Em “Metendo o pé na lama”, Cid Castro conta a história da transformação, radical, de Freddie Mercury. O soberano indisposto e cheio de exigências impossíveis terminou a noite assombrado diante do retorno da gigantesca plateia ao espetáculo que comandara com o Queen.
Antes do show, lembra o autor, a produção do Rock in Rio estava em polvorosa. “O motivo era simples: a Rainha da Inglaterra insistia em não se apresentar aos súditos”. O cantor exigia que os corredores ficassem vazios para sua passagem (operação que exigiria a remoção apressada de uma pequena multidão de 300 pessoas, entre equipe técnica, jornalistas e penetras). No fim, o astro foi levado ao palco cercado por seguranças. “Aos poucos, a supremacia inglesa foi massacrada pelo entusiasmo tupiniquim. (…) ´We are the champions´, cantado a uma só voz pela plateia, superava o artista. Essa emoção tocou o intocável Fred”.
Serviço:
Título: Queen – História ilustrada da maior banda de rock de todos os tempos
Autor: Phil Sutcliffe
Editora: Editora Globo
Ano: 2011
Idioma: Português
Especificações: Brochura | 288 páginas
Autor: Phil Sutcliffe
Editora: Editora Globo
Ano: 2011
Idioma: Português
Especificações: Brochura | 288 páginas
Preço estimado: R$ 50,00.
Texto final: Dellano Rios.
Texto final: Dellano Rios.
Fonte: Combat Rock\Queen Net.
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