Billy Sheehan odeia rótulos, comparações e, por mais contraditório que possa parecer, faz de tudo para não atrair os holofotes. Árdua tarefa para o músico que carrega na bagagem o peso de ser um dos melhores baixistas do mundo. O agora ‘sessentão’ – idade completada no dia 19 de março – é um veterano do rock.
Aclamado pelos trabalhos ao
lado de David Lee Roth (vocalista do Van Halen), Steve Vai e as bandas Mr. Big e
Talas, Sheehan acaba de lançar Krush, sexto álbum de estúdio do Niacin,
projeto paralelo que tem com o baterista Dennis Chambers e o tecladista John
Novello. “Não me considero o melhor. Ainda tenho muito a aprender. Este projeto
mostrou isso. Todos os dias eu descubro alguma coisa nova. Mais do que técnica,
é preciso tocar com a alma”, diz em entrevista ao Estado.
O baixista do Mr. Big nasceu em Buffalo, Nova York, e não teve nenhuma
formação musical. “Ninguém na minha família era músico ou tocava algum
instrumento. Meu pai era um contador de histórias. Ele recitava poemas. Minha
mãe adorava Sinatra. Aptidão zero para o rock ‘n’ roll”, recorda ele.
Apelidado por muitos de ”o Eddie Van Halen do baixo”, Sheehan é incisivo
quando o assunto envolve comparações ou perguntas mais técnicas sobre
sua habilidade. “Amo o Eddie (Van Halen), mas isso não tem fundamento.
Muita gente não acredita, mas eu não sei ler tablatura. Nunca estudei. Eu apenas
amava a música e me interessei pelo som do baixo. Na esquina da minha casa havia
um amigo que tocava e tinha uma banda. Ele foi uma grande influência. Eu queria
ser como ele. Foi mais simples do que vocês imaginam.”
A primeira banda de Billy Sheehan, o Talas, ganhou notoriedade na década de
1980. O grupo abriu algumas apresentações do Van Halen nos Estados Unidos
durante uma turnê. Billy Sheehan despertou a atenção de Roth. Com a saída dele
do Van Halen, em 1985, Sheehan foi convidado para participar de um novo projeto
com Steve Vai e o baterista Gregg Bissonette. O quarteto foi responsável por um
dos discos mais aclamados do hard rock: Eat’Em and Smile (1986).
O trabalho de estreia do grupo é tecnicamente impecável. Eat’Em and
Smile apresenta momentos épicos, como Yankee Rose, faixa de
abertura do álbum, que, de cara, mostra uma “conversa” entre David Lee Roth e a
guitarra distorcida de Steve Vai. Em Elephant Gun, o dueto entre a
guitarra de Vai e o baixo de Sheehan beira a perfeição. “Este disco é
fundamental, mas não posso cravar que é o mais importante da minha carreira.
Estou em atividade e continuo lançando coisas. Foi um período marcante ao lado
de Roth, Vai e Gregg.”
Tão impressionante quanto a rápida troca intercalada de Billy no baixo é a
drástica mudança de humor quando o assunto é música nova. Krush, disco
mais recente do Niacin, banda instrumental de jazz fusion que ele mantém desde
1995, acaba de chegar às lojas. “Este novo CD é uma das coisas mais incríveis
que já produzimos juntos. É ótimo trabalhar com
Dennis e John. É minha fuga da realidade. O álbum mescla rock, jazz e funk sem
que a nova combinação fique limitada às características de um estilo.”
Além de Krush, Sheehan também terminou as gravações de um novo álbum com Mike
Portnoy (ex-Dream Theater) e Richie Kotzen (ex-Poison). “Não quero parecer
pretensioso, mas este trabalho também está ótimo. Os vocais de Richie são
espetaculares. Nunca vi algo assim. Mike também acertou a mão na bateria”,
revela. O novo trabalho do power-trio, que incluía originalmente John Sykes
(ex-Whitesnake e Thin Lizzy) e não Richie Kotzen, ainda não possui nome e data
de lançamento.
Retorno do Mr. Big.
Após um hiato de quase sete anos, o Mr.
Big, banda formada por Sheehan em 1989, anunciou em 2009 que voltaria à ativa
com a formação original: Eric Martin nos vocais; Paul Gilbert na guitarra; Pat
Torpey na bateria e, claro, Billy Sheehan no baixo. O quarteto também fez uma
turnê pelo Japão e em 2010 lançou o disco What If… “A volta do Mr. Big
foi fantástica. Na ocasião, disse que retornar à banda era como reatar com uma
antiga namorada. E é verdade! As pessoas dizem muita besteira. Nós quatro
tínhamos carreiras bastante consolidadas. Voltamos pela música.”
O Mr. Big é responsável por algumas das baladas mais chicletes do início dos
anos 1990.To Be With You e Wild World foram exaustivamente
tocadas nas rádios do País. A banda estourou nos Estados Unidos e principalmente
no Japão. Em 1994, o grupo fez uma apresentação memorável para mais de 100 mil
pessoas em Santos. Billy Sheehan considera o show um dos melhores de sua
história. “A praia estava cheia. Fiquei mais apaixonado pelo Brasil.”
Com mais de 40 anos de carreira, Sheehan se diz privilegiado por tudo que
alcançou, mas sente uma aura especial toda vez que sobe ao palco. “Uma banda de
verdade precisa tocar ao vivo. Necessita ter contato com o público. Você só
melhora quando faz isso. Foi o que os Beatles fizeram. Foi o que o Van Halen
fez. Foi o que o AC/DC fez. A música triplica seu valor quando é compartilhada.
Ninguém que toca sozinho no quarto e depois posta o vídeo na internet evolui
musicalmente. Interação com o público é fundamental. Isso me motiva.”
Cientologia.
Billy Sheehan nunca fez questão de esconder seu
envolvimento com a cientologia. Fundada pelo escritor de ficção científica Ron
Hubbard, a religião envolve elementos da psicologia, hinduísmo, budismo e
cristianismo.
A cientologia ganhou mais notoriedade com o fim do casamento de Tom Cruise e
Katie Holmes. Segundo a imprensa americana, o fanatismo de Cruise pela igreja
teria sido o principal motivo para o pedido de divórcio de Katie. Priscilla
Presley, John Travolta e Juliette Lewis também são adeptos da religião.
“Tudo o que você ouviu é verdade. A cientologia me ajudou no aspecto pessoal
e profissional. Aprendi a encarar as coisas de outra forma. Podemos falar sobre
música agora?”
Fonte: Combate Rock\Fotos: Web e DiMarzio.com